Setor Médico

Colibri – Por uma escola da Esperança

 

Trabalhar numa instituição onde preferencialmente o grupo de indivíduos pertencem à categoria de excluídos, nos faz pensar acerca da diferença, e falar da diferença é falar da subjetividade, da individualidade da singularidade de cada um de nós e de cada um de nós que trabalhamos com essa especificidade. É falar do afeto; e afeto é vida! Por isso o setor médico da Colibri procura antes de mais nada falar do afeto, e falar da diferença do significado dessa questão – Síndrome de Down em cada um de nós, já que é um processo peculiar e singular de cada ser. Além do afeto que acolhe esse indivíduo, o setor médico procura respeitar e detectar e orientar cada diferença que traz em si cada portador de Síndrome de Down. O nosso trabalho é fundamentalmente dar cuidados e instituir cuidados, sendo a atenção a maior das solidariedades.

O setor médico na Colibri não é necessariamente um setor curativo, mas seu objetivo além de acolher, e dar afeto é entender diretamente as demandas, compreende-las e lidar com elas respeitando o vasto mundo de sintomas diferenciados que apresentam. Ex: Ao pedirmos um parecer cardiológico de uma das nossas crianças sabemos se ela pode ou não se submeter a algumas atividades físicas.         

Não atendemos clinicamente na Colibri, fazemos um acolhimento e pedimos o parecer do especialista da área. Não é nosso objetivo tratar a alteração orgânica seja em que área tenha ocorrido, mas sim formar e instituir cuidados e cobrá-los aos profissionais que os cerca e aos familiares.

O coletivo que pertence ao Colibri, não está solto no mundo, pertence a um coletivo maior cujo conteúdo é produto da cultura, da religião, da raça, de simbolismos, de aportes lingüísticos, jurídicos e psicológicos. Acreditamos que o setor médico é de menor importância, junto a algo muito maior que é o Educador, pois é a escola o principal habitat fora de casa, da família e que se coloca na esfera das relações sociais, faz pensar também que as primeiras experiências no seu interior são decisivas no seu modo de se colocar na vida, no mundo nas relações com outro e a considerar a escola como espaço privilegiado de cultura.

O olhar que o profissional do setor médico recebe esse indivíduo que chega deverá ser um olhar provido de desejo – Olhar estruturante.

O nosso trabalho é de fazer com que o outro se sinta pertencendo o mundo através do respeito e das suas crenças e de trabalharmos com inúmeras redes de história, tentamos reinventar sempre um sentido em nosso trabalho, onde o nosso carro chefe é o DESEJO, tentando nos escrevermos nessa multiplicidade da cultura, trabalhando com a lógica da diferença que está ligada a subjetividade marcando seu possível limite entre vida e morte. A Colibri tem como proposta também a criação de novos espaços, que produzem efeito terapêutico – Criação de espaços de convivência onde possa fluir e experimentar criativamente as fantasias, seus sonhos, sua problemática, seus medos, “lugares mágicos”, não esquecendo que a singularidade do ser humano é uma de suas belezas.

É sendo criativo que tentamos resolver questão maior, que é a liberdade de ser livre, de ser respeitado com todas as contradições e dores, mas não esquecer da alegria, felicidade e da possibilidade de existir nas diferenças com todas as contradições que possam surgir.

Ter saúde implica em ser criativo.

Logo a Colibri como esperança é o nosso pão de cada dia, que não deve ser nem para mais e nem para menos.

 

“Homens foram feitos para a alegria e afeição.

E quando disto tem boa noção, pelo mundo seguros vão."

W.BLAKE

 

Bertine Carlos Bezerra

Mãe do Leo, Julio, Rafael, Joana e avó da Vitória, Luiza e Helena.